O Peru prepara uma de suas maiores ofensivas militares das últimas duas décadas contra remanescentes da guerrilha maoísta Sendero Luminoso, que recentemente desafiou o governo sequestrando dezenas de trabalhadores e matando quatro membros das forças de segurança. Fontes militares e governamentais disseram nesta sexta-feira à Reuters que efetivos militares e policiais estão removendo centenas de moradores de uma zona de selvas no sul do país para evitar que eles sejam apanhados no eventual fogo cruzado.A região preparada para o confronto é a mesma onde os rebeldes mantiveram em cativeiro durante cinco dias 36 trabalhadores do consórcio de extração de gás Camisea. "Vem uma operação com tudo, o negócio é tudo ou nada", disse uma fonte do comando conjunto das Forças Armadas, pedindo anonimato.
O comandante rebelde que encabeçou o sequestro, Martín Quispe Palomino, o "Camarada Gabriel", disse nesta semana numa surpreendente entrevista a três meios de comunicação peruanos que a captura dos reféns foi uma estratégia para provocar as Forças Armadas e "aniquilar" militares e policiais. Suas declarações puseram em xeque a atuação do governo, que havia se declarado "vitorioso" na operação de regate dos reféns.
Quispe garantiu que o grupo foi solto por iniciativa dos rebeldes.
"O saldo para nós não é favorável, há mortos, feridos, um helicóptero abatido. Por isso vem uma operação militar forte, porque há uma pressão política muito forte para obter resultados", afirmou a fonte. Ao longo de duas décadas, o Sendero Luminoso se envolveu em uma guerra civil que deixou 69 mil mortos e desaparecidos.
O grupo perdeu muita força depois da captura de seu fundador, Abimael Guzmán, em 1990, mas ainda tem presença em algumas zonas remotas do Peru, e o governo o acusa de se aliar a narcotraficantes, intelectuais simpatáticos aos senderistas, negam que o grupo armado esteja atuando junto com os plantadores de coca.Depois do sequestro, o governo do presidente Ollanta Humala, um militar da reserva que combateu o Sendero nas décadas de 1980 e 90, anunciou a mobilização de 1,5 mil soldados para confrontar a guerrilha na região de Cusco (sudeste).
O Sendero conta hoje com cerca de 400 combatentes, segundo fontes militares e especialistas em temas de violência. Os rebeldes mataram cerca de 60 policiais e soldados nos últimos três anos, mas analistas dizem que a guerrilha representa um grande risco institucional para o Peru.